Fonte: Folha de São Paulo
Em conversas ocorridas em março passado, o ministro do
Planejamento, senador licenciado Romero Jucá (PMDB-RR), sugeriu ao
ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado que uma "mudança" no
governo federal resultaria em um pacto para "estancar a sangria"
representada pela Operação Lava Jato, que investiga ambos.
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Data das conversas não foi especificada
SÉRGIO MACHADO - Mas viu, Romero, então eu acho a
situação gravíssima.
ROMERO JUCÁ - Eu ontem fui muito claro. [...] Eu só
acho o seguinte: com Dilma não dá, com a situação que está. Não adianta esse
projeto de mandar o Lula para cá ser ministro, para tocar um gabinete, isso
termina por jogar no chão a expectativa da economia. Porque se o Lula entrar,
ele vai falar para a CUT, para o MST, é só quem ouve ele mais, quem dá algum
crédito, o resto ninguém dá mais credito a ele para porra nenhuma. Concorda
comigo? O Lula vai reunir ali com os setores empresariais?
MACHADO - Agora, ele acordou a militância do
PT.
JUCÁ - Sim.
MACHADO - Aquele pessoal que resistiu acordou
e vai dar merda.
JUCÁ - Eu acho que...
MACHADO - Tem que ter um impeachment.
JUCÁ - Tem que ter impeachment. Não tem saída.
MACHADO - E quem segurar, segura.
JUCÁ - Foi boa a conversa mas vamos ter outras pela
frente.
MACHADO - Acontece o seguinte, objetivamente falando,
com o negócio que o Supremo fez [autorizou prisões logo após decisões de
segunda instância], vai todo mundo delatar.
JUCÁ - Exatamente, e vai sobrar muito. O Marcelo e a
Odebrecht vão fazer.
MACHADO - Odebrecht vai fazer.
JUCÁ - Seletiva, mas vai fazer.
MACHADO - Queiroz [Galvão] não sei se vai fazer
ou não. A Camargo [Corrêa] vai fazer ou não. Eu estou muito preocupado porque
eu acho que... O Janot [procurador-geral da República] está a fim de pegar
vocês. E acha que eu sou o caminho.
[...]
JUCÁ - Você tem que ver com seu advogado como é que a
gente pode ajudar. [...] Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível].
Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra... Tem que mudar
o governo pra poder estancar essa sangria.
[...]
MACHADO - Rapaz, a solução mais fácil era botar o
Michel [Temer].
JUCÁ - Só o Renan [Calheiros] que está contra essa
porra. 'Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha'. Gente,
esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
MACHADO - É um acordo, botar o Michel, num grande
acordo nacional.
JUCÁ - Com o Supremo, com tudo.
MACHADO - Com tudo, aí parava tudo.
JUCÁ - É. Delimitava onde está, pronto.
[...]
MACHADO - O Renan [Calheiros] é totalmente 'voador'.
Ele ainda não compreendeu que a saída dele é o Michel e o Eduardo. Na hora que
cassar o Eduardo, que ele tem ódio, o próximo alvo, principal, é ele. Então
quanto mais vida, sobrevida, tiver o Eduardo, melhor pra ele. Ele não
compreendeu isso não.
JUCÁ - Tem que ser um boi de piranha, pegar um cara, e a
gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem.
*
MACHADO - A situação é grave. Porque, Romero, eles
querem pegar todos os políticos. É que aquele documento que foi dado...
JUCÁ - Acabar com a classe política para ressurgir,
construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com...
MACHADO - Isso, e pegar todo mundo. E o PSDB, não sei
se caiu a ficha já.
JUCÁ - Caiu. Todos eles. Aloysio [Nunes, senador], [o hoje
ministro José] Serra, Aécio [Neves, senador].
MACHADO - Caiu a ficha. Tasso [Jereissati]
também caiu?
JUCÁ - Também. Todo mundo na bandeja para ser comido.
[...]
MACHADO - O primeiro a ser comido vai ser o
Aécio.
JUCÁ - Todos, porra. E vão pegando e vão...
MACHADO - [Sussurrando] O que que a gente fez
junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele ser
presidente da Câmara? [Mudando de assunto] Amigo, eu preciso da sua
inteligência.
JUCÁ - Não, veja, eu estou a disposição, você sabe
disso. Veja a hora que você quer falar.
MACHADO - Porque se a gente não tiver saída... Porque
não tem muito tempo.
JUCÁ - Não, o tempo é emergencial.
MACHADO - É emergencial, então preciso ter uma conversa
emergencial com vocês.
JUCÁ - Vá atrás. Eu acho que a gente não pode juntar
todo mundo para conversar, viu? [...] Eu acho que você deve procurar o
[ex-senador do PMDB José] Sarney, deve falar com o Renan, depois que você falar
com os dois, colhe as coisas todas, e aí vamos falar nós dois do que você achou
e o que eles ponderaram pra gente conversar.
MACHADO - Acha que não pode ter reunião a três?
JUCÁ - Não pode. Isso de ficar juntando para
combinar coisa que não tem nada a ver. Os caras já enxergam outra coisa que não
é... Depois a gente conversa os três sem você.
MACHADO - Eu acho o seguinte: se não houver uma solução
a curto prazo, o nosso risco é grande.
*
MACHADO - É aquilo que você diz, o Aécio não ganha
porra nenhuma...
JUCÁ - Não, esquece. Nenhum político desse
tradicional ganha eleição, não.
MACHADO - O Aécio, rapaz... O Aécio não tem condição, a
gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu,
que participei de campanha do PSDB...
JUCÁ - É, a gente viveu tudo.
*
JUCÁ - [Em voz baixa] Conversei ontem com alguns
ministros do Supremo. Os caras dizem 'ó, só tem condições de [inaudível] sem
ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela,
essa porra não vai parar nunca'. Entendeu? Então... Estou conversando com os
generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão
garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar.
MACHADO - Eu acho o seguinte, a saída [para Dilma] é ou
licença ou renúncia. A licença é mais suave. O Michel forma um governo de união
nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege todo mundo. Esse país
volta à calma, ninguém aguenta mais. Essa cagada desses procuradores de São
Paulo ajudou muito. [referência possível ao pedido de prisão de Lula pelo
Ministério Público de SP e à condução coercitiva ele para depor no caso da Lava
jato]
JUCÁ - Os caras fizeram para poder inviabilizar ele de
ir para um ministério. Agora vira obstrução da Justiça, não está deixando o
cara, entendeu? Foi um ato violento...
MACHADO -...E burro [...] Tem que ter uma paz, um...
JUCÁ - Eu acho que tem que ter um pacto.
[...]
MACHADO - Um caminho é buscar alguém que tem ligação
com o Teori [Zavascki, relator da Lava Jato], mas parece que não tem ninguém.
JUCÁ - Não tem. É um cara fechado, foi ela [Dilma]
que botou, um cara... Burocrata da... Ex-ministro do STJ [Superior Tribunal de
Justiça].
Folha de São Paulo